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COLETIVOS FEMINISTAS AUTO-ORGANIZADOS EM ESCOLAS BRASILEIRAS

Ao longo de meu levantamento a respeito de projetos que abordassem aas temáticas de gênero, feminismos e sexualidades, percebi que seria impossível deixar de lado a questão dos coletivos auto-organizados por alunas secundaristas e do Ensino Fundamental. Isto, pois não só estas organizações em si são projetos que abarcam grande parte destas questões e a própria formação desses grupos já parte de uma série de reivindicações feministas, mas também porque muitas das palestras, projetos e atividades que vi serem desenvolvidas nos últimos anos nas escolas brasileiras se fizeram possíveis graças à influência e/ou organização desses coletivos feministas dentro das escolas. Portanto, me propus a reunir e analisar todos os coletivos que encontrei (clique aqui para acessar as lista e links de reportagens e páginas), mas, é preciso já deixar ressalvado que estes aqui listados são uma parcela ínfima perto de todos os que se formaram nos últimos anos, principalmente durante e/ou após 2015 e 2016.

Estes anos, 2015 e 2016, serão constantemente referenciados aqui, pois são marcos na história da luta estudantil e, junto a ela, marcos na história do próprio movimento feminista no país: são, respectivamente, o ano das ocupações de 196 escolas públicas e privadas de São Paulo contra a reestruturação da rede escolar proposta pelo Governo do Estado e que fecharia mais 93 escolas; e o ano no qual se organizaram mais de 1000 ocupações em instituições de ensino, escolas e universidades, contra a PEC 55/241,  que previa o congelamento e um corte de verbas pra saúde e educação, e os ataques do governo golpista.

A importância das ocupações na formação e/ou inspiração de coletivos feministas nas escolas foi central. As pautas feministas estiveram em grande parte enquanto orientadoras das práticas e vivências que se deram nos períodos de ocupações secundaristas e universitárias de 2016. Nunca me esquecerei de uma das frases mais comuns na época das ocupações na UFMG, gritada pelo menos 2 vezes por dia “homens brancos héteros pra cozinhaaar” ou “homens brancos héteros pra lavar a louçaaa”. Embora isso dissesse muito sobre quem simplesmente cozinhava e lavava e quam precisava ser chamado, lembrado e até obrigado, ao mesmo tempo dizia muito também sobre o fato de que havia uma atenção e uma preocupação no período de ocupações no que dizia respeito às mulheres, suas pautas, suas lutas, suas dores e sua opiniões. Com as secundaristas em 2015 e 2016 não foi diferente, como defende a reportagem “A primavera secundarista será toda feminista!”[1]

“Assim como as ocupações de 2015 que começaram em São Paulo, as desse ano também são protagonizadas, sobretudo, por meninas e LGBTIs; e a maioria delas se intitulam feministas.”

As ocupações secundaristas também foram, majoritariamente, ocupadas, lideradas e organizadas por mulheres. Uma questão muito importante era a divisão de tarefas, como mostra a reportagem “Quem são e o que querem as feministas secundaristas”

“Essas meninas estiveram à frente do movimento de ocupação das escolas de 2015 e 2016, exigindo mudanças na educação pública nacional, além de corrigirem pequenos hábitos corriqueiros: na organização das ocupações, meninos e meninas dividiam as tarefas igualmente.”

Me lembro que aqui em Belo Horizonte, tínhamos contato constante com várias das escolas secundaristas ocupadas e que em algumas delas a quantidade de mulheres e LGBTs era tão grande que se denominavam enquanto ocupações exclusivas desses grupos. Além disso, nós ocupantes universitárias mulheres, feministas e estudantes de temáticas de gênero éramos constantemente chamadas para darmos palestras e propormos rodas de conversa que girassem em torno dessas temáticas.

As ocupações foram, portanto, centrais para a organização e movimentação de muitos coletivos e pautas feministas dentro das escolas públicas e particulares no Brasil. No entanto, as ocupações não foram e não são as únicas inspirações para a formação de coletivos dentro das escolas e, a partir dos relatos de muitos deles, pude perceber também que vários se formam a partir de casos de assédio, abusos, trotes ou proibição de shorts e leggins para estudantes mulheres.

Sendo assim reuni 20 coletivos para análise e percebi, através de relatos de garotas que participam, matérias e reportagens a respeito dos grupos e as próprias páginas e sites dos coletivos que estas garotas se reúnem de forma política reivindicando uma série de pautas, como: a denúncia do assédio e abusos no ambiente escola e a necessidade de políticas dentro da escola que façam estas práticas cessarem, como, por exemplo, a discussão desses temas com os garotos; o fim de práticas excludentes e machistas nas aulas de educação física; a necessidade de discussões e intervenções a respeito de sexualização das mulheres na escola, relacionamentos abusivos, a negação de escolhas para estudantes mulheres (de roupas por exemplo), bullying eletrônico e vazamento de nudes, cultura do estupro, tabus do patriarcado e o “top 10 vadias” que ainda ocorre em muitas escolas. Além disso é muito importante ressaltar que grande parte dos coletivos tem grande preocupação com a questão das interseccionalidades e pautam, tanto nos discursos quanto nas práticas, questões como lesbianidade, negritude no feminismo, classismos e racismos associados ao machismo e transgeneridade.

Quanto às dinâmicas dos coletivos, elas são muito variadas e dependem muito da adesão ou não da escola. Muitos dos coletivos se reúnem em contra-turnos (com ou sem a presença de professoras) e, em outros casos, a escola compra a proposta e incorpora atividades do coletivo em sua agenda. Algumas dessas atividades, além de rodas de discussão, debate e leitura, são, por exemplo, a proposição de palestras, intervenções e discussões em sala de aula, com a incorporação, inclusive, de alguns conteúdos (como análise de livros de literatura feita por feministas, biografias de mulheres importantes na história, etc.). Além disso, estes coletivos tem uma importante função que é de chamar e organizar as meninas das suas respectivas escolas para os atos feministas das cidades.

Algumas atividades desenvolvidas por estes coletivos são, por exemplo: uma colagem massiva de cartazes e bilhetes nos banheiros e paredes da escola, desenvolvida pelo “Coletivo Liberato”, pela desnaturalização de atitudes machistas. O “Coletivo da escola EMEF Sebastião Francisco O Negro” fez uma exposição de roupas penduradas me sala de aula escritas com frases que as mulheres escutam ao serem assediadas e, além disso, ofereceu uma oficina aberta de lambes feministas que foram colados no bairro da escola. O “Eu Não Sou Uma Gracinha” atua de diversas maneiras no cotidiano escolar como, por exemplo, a organização de um cineclube com temáticas feministas e intervenções chamadas de “happenings” que consistem em ações inesperadas para fazer críticas ou propor mudanças.

Para quem quiser saber mais sobre a “Primavera Secundarista” e as contribuições da luta feminista no período de ocupações:

 

 

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