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SOBRE O SITE E O PROJETO

Este site é o produto de um projeto desenvolvido para uma disciplina de "Gênero e sexualidade no currículo", ministrada pela professora Shirlei Sales na UFMG (e, portanto, já peço desculpas a todas pela linguagem acadêmica, rsrs). O projeto surge, portanto, enquanto respostas a uma questão de pesquisa elaborada no início de 2018 que era: “quais as atividades, projetos e metodologias desenvolvidas em escolas brasileiras que tratam de questões de gênero, sexualidades e feminismos com alunas e alunos de Ensino Médio?” Ao longo da própria pesquisa, por motivos que explicarei melhor ao descrever minha metodologia, esta pergunta foi se transformando e se adaptando às realidades pesquisadas e reunidas, de forma que, hoje, eu diria que este projeto é a resposta a uma pergunta similar, mas diferente em pontos e medidas importantes: “quais são as produções e organizações de projetos, materiais e coletivos a respeito de gênero, sexualidades e feminismos que estão sendo propostos e desenvolvidos por alunas(os), professoras(es) e escolas no Brasil e que podem servir como inspiração e potências para o Ensino Médio?” A resposta a esta pergunta foi, portanto, a elaboração de um acervo digital no qual tentei agregar projetos realizados nas escolas, materiais produzidos sobre o tema para servirem de apoio em aulas e projetos sobre as temáticas, coletivos feministas auto-organizados de alunas secundaristas e planos de aula que versem sobre estes assuntos de forma a delinear possibilidades de resistência às normas e às relações de poder (de gênero, sexualidade e, nas intersecções, também de raça, classe e outros) em nossa sociedade que vêm se fortalecendo e agravando nos últimos anos com o golpe e o crescimento da organização “Escola Sem Partido”.

 

Desta forma, encaro estas resistências a partir de uma perspectiva foucaultiana, também defendida e repensada por Judith Butler (2004), como formas não só de enfrentamento, mas principalmente de escapes criativos às regulações normativas impostas. Butler defende que, se o gênero se configura enquanto um sistema de normatização e regulação de corpos e existências, é também através do gênero que se pode construir resistências e práticas de questionamento, descronstrução e desnaturalização do próprio gênero. Da mesma forma podemos pensar estas produções e projetos que teimam em trazer estas temáticas e problematizações para sala de aula, pois ainda que a escola funcione muitas vezes enquanto normatizadora e (re)produtora de estereótipos e papeis de gênero e sexualidade, por outro lado é de dentro dela que tem surgido uma miríade de possibilidade de “transgressões, subversões e transformações”, como defende Sara Lewis (2017), e re-existências (novas e outras). Além disso, um dos objetivos deste trabalho é multiplicar e visibilizar estas possibilidades outras de existência, de educação e de gêneros, sexualidades e feminismos.

METODOLOGIA

Um primeiro ponto que talvez seja necessário ser explicitado é que metodologia utilizada nos levantamentos deste acervo foi se construindo ao longo da própria pesquisa, moldando-se aos novos pontos descoberto e adequando-se às necessidades teóricas, metodológicas e, principalmente, políticas que surgiram ao longo do próprio levantamento.

Inicialmente dividi minha busca por projetos em duas partes: uma por planos de aula, que podem ou não ter sido desenvolvidos, mas que apresentam propostas de projetos que entendo como ferramentas importantes na construção de possibilidades de resistências; e uma segunda por projetos, já desenvolvidos ou ainda em andamento, por professoras (es)em escolas brasileiras.

Na primeira parte, portanto, visitei os portais que agregam planos de aula virtuais – “Centro de Referência do Professor”, “Portal do Professor”, “Portal MEC” e (um que descobri mais tarde, ao longo da pesquisa) o “Gênero e Educação” da ONU mulheres – e lá fiz uma busca por planos que versassem sobre gênero, feminismo, sexualidades e/ou diversidade sexual e comunidade LGBT. Nesta busca, restringi a pesquisa apenas a projetos para o Ensino Médio, uma vez que este era o foco do meu levantamento. Uma vez encontradas, selecionei portanto esses planos de aula e os importei/salvei para análises posteriores.

Já na segunda parte, pesquisei, através do google,  por reportagens que contassem histórias e descrevessem projetos de professoras e professores que propuseram formas múltiplas  de apresentar as temáticas de gênero, sexualidade e/ou feminismo a suas alunas e alunos do Ensino Médio e que debatessem de forma responsável a respeito das violências, mas também das  existências e resistências que permeiam dentro dessas temáticas. No entanto, esta segunda parte da pesquisa me abriu uma série de portas que passei então a desenvolver melhor posteriormente. A primeira delas foi o fato de que a minha restrição a projetos exclusivamente desenvolvidos no Ensino Médio não fazia sentido uma vez que meu objetivo com este mapeamento não era apenas mapear, mas também coletar e reunir possibilidades para outros futuros projetos. Nesse sentido, uma gama ampla de projetos desenvolvidos[2] no Ensino Fundamental e no EJA que poderiam ser facilmente aplicáveis ao Ensino Médio sem a necessidade de adequar estes projetos em forma ou conteúdo e cujas discussões são de igual importância para adolescentes com faixa etária de 14 a 18 anos – é o caso por exemplo de projetos que tem como proposta a leitura de biografias de mulheres negras importantes na história. A segunda questão que apareceu foi que metade dos projetos desenvolvidos, principalmente no Ensino Médio após 2015, foram propostos, sugeridos e até desenvolvidos por alunas e não pela escola ou suas professoras e professores. É o caso das dezenas de coletivos feministas formados com/após as ocupações secundaristas de 2015 e 2016 e de uma ampla gama de atividades e conversas propostas por estes mesmos coletivos. Portanto, me propus a reunir também a formação desses grupos enquanto projetos que fazem agora parte do meu acervo. Por último, percebi também que muitos projetos que perpassavam por essas temáticas não haviam sido efetivamente desenvolvidos em escolas específicas, mas se baseavam na elaboração de materiais – principalmente cartilhas – a serem utilizados nas escolas, sendo estas elaborações feitas por ONGs, Prefeituras, grupos de pesquisa acadêmica e até pelo Governo (como o caso do projeto “Escola Sem Homofobia”, barrado posteriormente pelo próprio Governo Federal). Os projetos, coletivos e materiais encontrados através das reportagens e relatos virtuais foram também salvos para análises posteriores.

Uma terceira parte deste trabalho que também apareceu pra mim ao longo do processo, foi a necessidade de conhecer projetos mais próximos, de escolas, alunas (os) e professoras (es) conhecidas de forma a dar visibilidade àqueles projetos que não chegaram aos jornais ou blogs, mas que existem e resistem nas escolas que nos circulam. Desta forma, fiz uma chamada no Facebook por projetos de amigas (os) e conhecidas (os) que abordassem esses temas preferencialmente, mas não exclusivamente, no Ensino Médio. À medida que as pessoas foram entrando em contato comigo, elaborei algumas perguntas orientadoras para cada projeto de forma que eu pudesse incluí-los em meu acervo e conversei um pouco a respeito não só das propostas, mas também dos desenvolvimentos e reações causadas pela inserção dessas temáticas dentro das escolas. Além disso, fui convidada para uma visita (em junho) à uma das escolas – a Escola da Serra – para observar de perto o desenvolvimento do projeto “Roda das Mina” e conversar com as alunas que o constroem em conjunto com a professora e a escola.  Estes relatos e conversas também foram guardados para análises.

Na quarta e última parte desta pesquisa, reuni e organizei todo o material coletado e analisei as propostas, os formatos em que foram desenvolvidas, os materiais utilizados e os conteúdos abordados, numa tentativa de delinear as maneiras encontradas de resistir escapar aos retrocessos impostos pelo golpe, pela direita e pelo patriarcado. O resultado dessa coleta e dessas análises é esse site, que espero que ajude professoras(es) e pesquisadoras(es) como banco de inspirações múltiplas para futuros projetos e pesquisas. 

[2] Estes projetos estão identificados no acervo enquanto realizados no Ensino Fundamental ou no EJA, mas também estão descritos enquanto aplicáveis ao Ensino Médio.

Gostou da proposta do acervo? Quer colaborar?

Se você conhece ou desenvolve um projeto que trate de questões de gênero, sexualidade e feminismos em escolas brasileiras e acha que ele pode estar no site, é só mandar!

Obrigada! Sugestão enviada.

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